domingo, 28 de maio de 2017

2TIMÓTEO 2:14-26 – “AS ÚLTIMAS PALAVRAS


Após sua primeira prisão em Roma, por volta de 60-62 d.C., na qual Paulo pôde alugar
uma casa e viver nela com certa liberdade por dois anos inteiros, prisão domiciliar
portanto, ele foi liberto. Começou então a sua quarta viagem missionária
provavelmente acompanhado por Lucas, Timóteo e Tito pelo menos. Têm-se por certo
que Paulo visitou a Espanha e, na viagem de volta, chega a ilha de Creta onde deixa
Tito encarregado da igreja ali estabelecida e vai para a Ásia Menor, visitando a igreja
em Colossos e chegando até Éfeso, onde deixa Timóteo. Dali ele vai para Filípos na
Macedônia, onde escreve a primeira carta à Timóteo e também uma carta para Tito
(63-65 d.C.). Posteriormente viaja novamente para a capital do império onde vai ser
encarcerado pela segunda vez e logo depois, executado (67-68 d.C.).
Paulo tinha três motivos principais para escrever para Timóteo:
1 – Sentia-se solitário;
2 – Estava preocupado com o bem estar das igrejas que estavam sob grande
perseguição;
3 – Queria escrever à igreja de Éfeso através de Timóteo.
Antes de irmos para o texto, algumas considerações: A cidade de Éfeso, como todo
grande centro comercial, era cosmopolita, combinando as culturas grega e romana.
Era também um centro de peregrinação e adoração. O templo de Diana, a deusa da
fertilidade, era uma das maravilhas do mundo antigo. A cidade era um campo de
batalha religioso onde concorriam com o culto à deusa, escolas de magos e várias
escolas filosóficas. Uma doutrina bastante comum em toda a filosofia grega dessa
época dizia que o corpo era a prisão da alma, ou seja, a alma era boa e a matéria,
má. Nesse pensamento não havia espaço para ressurreição do corpo, haja visto, a
pregação de Paulo em Atenas.
Quem governava o império desde 54 d.C. era o insano Nero, mandante do
assassinato da própria mãe¹ e um dos maiores inimigos do cristianismo. Culpou e
perseguiu os cristãos pelo incêndio de Roma em 64 d.C., culminando com as mortes
dos apóstolos Paulo e Pedro (.67-68 d.C.).
A jovem igreja de Éfeso estava sob ataque de falsos mestres fortemente influenciados
por todo esse cenário. É nesse contexto de intensa perseguição e perspectiva de
apostasia que Paulo escreve sua segunda carta a esse jovem pastor esperando
fortificá-lo na fé e encorajá-lo a enfrentar as dificuldades, discipular e fortalecer a igreja
de Cristo no pleno conhecimento do evangelho.
Lembrando que estamos fazendo análise de uma carta pastoral que tem como
característica a interpelação pessoal.
A perícope que escolhi está inserida dentro da estrutura literária de Paulo na
parte teológica, ainda que contenha ensinos práticos.
Contexto anterior imediato – Paulo insta Timóteo para guardar tudo o que dele
aprendera e não só guardar mas, ensinar a outros tão idôneos quanto ele, pois em
decorrência da nossa finitude vem a grande importância do discipulado.
Contexto posterior imediato – Timóteo precisava perseverar no estudo e na pregação
da palavra da verdade pois lutas maiores viriam, portanto, esse enfrentamento aos
falsos mestres em Éfeso era na verdade o primeiro de muitos embates de Timóteo e
serviria como um teste para ele.
Citando Hoster: “A carta é recomendada a todo pregador do Evangelho, que nas horas
de reflexão solitária quer prestar contas a si mesmo e tenta ouvir a avaliação de Deus
sobre seu ministério"².
A passagem que consideramos como central dentro da carta está no capítulo 2:10
“Portanto tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a
salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna”.
2Timóteo 2:14-26³ - delimitação
Vs. 14-19 – Argumentação - obreiro aprovado x obreiro reprovado;
Vs. 20,21 – Ilustração - vasos de honra x vasos de desonra;
Vs. 22-26 – Aplicação – Como deveria ser a conduta de Timóteo como obreiro
aprovado.
“Continua a lembrar-lhes essas coisas, advertindo-os diante do Senhor que não
tenham contenda de palavras, que não trazem nenhum benefício e ainda causam a
destruição dos ouvintes. Empenha-te em apresentar-te a Deus aprovado como um
operário que não tem do que se envergonhar e que maneja bem (ortotomounta) a
palavra da verdade. Evita porém os falatórios inúteis e não santos pois farão aumentar
a impiedade (asebéias). E mais, a palavra deles se alastrará como gangrena
(gaggraina). Entre eles estão Himeneu e Fileto. Os quais, com relação à verdade,
erraram o alvo (storresan) dizendo que a ressurreição (anastásis) já aconteceu e
com isso pervertem a fé a alguns. Todavia o sólido fundamento de Deus permanece
tendo este selo (sfragda): ‘o Senhor conhece os que lhe pertencem"4 e ‘afaste-se da
injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor’5. Numa grande casa, não
existem somente vasos de ouro e de prata, mas também de madeira e de barro, uns
para honra outros para desonra. Portanto, se alguem vier a se purificar dessas coisas,
será uma vaso para honra, consagrado e útil para o seu dono e preparado para toda
boa obra. Foge dos desejos (epitumias) da juventude e segue (dioko) porém a justiça
(dikaiosunen), a fé (pistin), o amor (agapen), a paz (eirenen), na compania daqueles
que invocam o Senhor com o coração puro. Recusa as o contendas. Não é próprio do
servo (doulos) do Senhor contender, mas sim ser gentil para com todos e ser apto
para ensinar, paciente, instruindo com paciência os que se lhe opõem, esperando que
Deus os traga de volta à sobriedade (metanóia) e ao conhecimento da verdade
(alhetéia) para que se livrem da armadilha em que foram aprisionados (zogreo) pelo
diabo a fim de fazerem a sua vontade (télema).”

Vs. 14 – Continua a lembrar-lhes essas coisas, advertindo-os diante do Senhor
que não tenham contendas de palavras, que não trazem nenhum benefício e
ainda causam a destruição dos ouvintes.

Paulo prossegue com a argumentação que havia iniciado no início do capítulo, quando
fala da importância do discipulado de forma geral e a partir de agora vai desenvolver
esse argumento dando ênfase no discipulado mais individual.
Citando Kelly, O verbo grego “hupomimneske” que significa literalmente lembrar, está no presente
do imperativo o que indica que esta deva ser a prática regular de Timóteo, por isso a
tradução “continua”.
“essas coisas” a que Paulo se refere é o próprio evangelho, as “sãs palavras”, o
“depósito do Espírito Santo”, descrito no início da carta, contrastando com as
“contendas de palavras”.
Segundo Fee, “o imperativo retoma a preocupação de Paulo com a salvação do povo
escolhido de Deus à sombra da ameaça da apostasia”.
A palavra “advertindo-os” dá uma idéia de continuidade na ação, não parar de advertilos
do erro.
Tendo o Senhor como testemunha, Calvino vai dizer que isso deveria causar terror
nesses falsos mestres, uma vez que eles não aceitavam nenhuma autoridade sobre
eles em matéria de interpretação das Escrituras.
A arma dos obreiros fraudulentos é sempre lançar a dúvida, pegando palavras soltas,
fora de contexto, e isso dissemina a discórdia.Todo o objetivo desses ventres de
controvérsias é a destruição dos ouvintes.
Vs. 15 - Empenha-te em apresentar-te a Deus aprovado como um operário que
não tem do que se envergonhar e que maneja bem (ortotomounta), a palavra da
verdade.
Depois de apontar os problemas Paulo agora diz a Timóteo que antes de ir para o
enfrentamento ele precisa de preparo, depois de ter se preparado adequadamente,
ser testado e aprovado. Lembre-se que o ministério pastoral é um prato cheio para
os preguiçosos. Quantos estão tranquilos recebendo seus salários à frente de igrejas,
não estudam, não ensinam e nem deixam ninguém ensinar, enquanto isso, os lobos
estão devorando as ovelhas que deveriam estar sendo cuidadas.
O próprio apóstolo, após sua conversão, antes de seu ministério decolar junto com
Barnabé em Antioquia da Síria, ficou um bom tempo de molho, só depois que se
mostrou fiel mesmo no anonimato é que Deus o elevou ao posto de maior pregador
da história da Igreja.
A metáfora do operário é esplêndida, operário aqui pode estar se referindo ao
trabalhador rural que tem confiança que fez um trabalho excelente e fica tranquilo
quando o seu senhor vem supervisionar a sua obra.
“Maneja bem” - (Ortotomounta - hapax legômina, palavra que só aparece uma única vez no Novo
Testamento - esse termo aparece na LXX, em provérbios 3:6 e
11:5), significa literalmente cortar rente. Termo bélico indicando a Timóteo que o que iria
enfrentar era uma verdadeira guerra. Assim como um guerreiro que não sabe manejar com
maestria seu armamento vai ser facilmente vencido por um inimigo mais hábil, também o
ministro do Evangelho que não domina a palavra da verdade, será facilmente induzido
ao erro. E, para manejar bem qualquer ferramenta é necessário treino.
Calvino relaciona o termo como se fosse um pai repartindo o pão entre os filhos, ele
entende cortar como fatiar e distribuir bem a palavra da verdade através da pregação
mas, essa não parece ser a melhor exegese para esse texto.
Porque o manejo correto da palavra de Deus implica necessariamente em rejeição de
tudo aquilo que a modifica no seu significado e conteúdo, aqui estou citando
Hendriksen. Crisóstomo diz que: “com o gládio do Espírito corta em toda parte o
supérfluo, o alheio à pregação”.
“A palavra da verdade” alguns comentadores vão relacionar a toda a Escritura e outros
vão dizer que é o próprio Evangelho que é também a minha opinião..
Vs. 16 - Evita porém os falatórios inúteis e não santos pois farão aumentar a
impiedade ( asebeia).
Conduta esperada de um verdadeiro ministro do Evangelho, pois, como pode aquele
que não quer se envergonhar do seu trabalho, ficar jogando conversa fora na ausência
do seu dono? Ainda mais quando não sabe quando ele poderá vir. Por falatórios
inúteis pôde-se entender que se refere aos ensinos dos sectários. Esses falatórios,
além de serem inúteis, ou seja, não servirem para a edificação, ainda não são próprios
dos santos, são palavras que não devem sair da boca de quem professa a Cristo, pois
a boca fala aquilo que o coração está cheio. As palavras na boca de um homem e
uma mulher de Deus deve ser “sim sim e não não”.
Timóteo deveria estar atento para as investidas dos falsos mestres e não respondê-los
nos mesmos termos, pois isso não acrescenta nada. Esses seguirão “avançando”
(possivelmente uma ironia de Paulo), mas, quando se avança em direção contrária na
verdade não é avanço e sim retrocesso.
Seguindo Kelly, a respeito dos “falatórios inúteis”, os falsos mestres “substituem a
revelação divina pela especulação humana”.
O termo grego traduzido por impiedade é asebeias, e, não se limita ao termo. Tinha
conotação muito mais abrangente e era também um termo jurídico. Qualquer negação
da lei e da ordem e ainda, qualquer tipo de subversão da ordem religiosa constituia
asebéias. O caso mais marcante que podemos citar diz respeito ao grande Sócrates
que foi julgado e condenado à morte por asebias. Outro que chegou a ser julgado
pelo mesmo crime foi o não menos importante Aristóteles.
Vs. 17 - E mais, a palavra deles se alastrará como gangrena (gaggraina). Entre
eles estão Himeneu e Fileto.
A metáfora aqui é bem interessante. A gangrena é uma infecção que começa numa
pequena ferida e vai se espalhando pelo corpo todo até matá-lo. Mas a doença só
avança quando não é administrado o antídoto e nesse caso, o antídoto era o
Evangelho de Cristo proveniente da pregação apostólica. Esse Himeneu já havia sido
excomungado pelo apóstolo (cf. 1Tm 1:20), mas ainda tinha muita influência no meio
da igreja, sinal de que havia um princípio de divisão em Éfeso. O parceiro era novo
mas a falsa doutrina era a mesma.
Calvino, em seu comentário as pastorais, explica: “[...] a natureza da enfermidade é
tal que, se não for tratada imediatamente, ela se estende para as partes mais próximas
e penetra até mesmo nos ossos e não para de corroer até que destrua todo o corpo”,
Ao contrário do câncer, que algum tradutores adotam e pode aparecer do nada, a
gangrena (gangraina) é um termo médico e é decorrente de uma infecção iniciada por
outros motivos, apontando que esta palavra foi escolhida com cuidado, não podemos
esquecer de quem é que acompanhava Paulo e, quase com certeza foi o amanuense na
confecção dessa carta, Lucas, o médico amado.
O câncer até hoje não tem cura e mata milhões de pessoas em todo o mundo, mas o
falso evangelho, que tem cura, tem ceifado muito mais vidas.
É significativo o fato de Paulo dar nome aos bois mas precisamos entender que não
podemos pegar essa passagem como regra e atacar as pessoas. Esse fato está
registrado em um documento pessoal por isso a importância de saber o tipo de texto
que se está tentando interpretar.
Vs. 18 - Os quais, com relação à verdade, erraram o alvo (storresan) dizendo que
a ressurreição (Anastasis) já aconteceu e com isso pervertem a fé a alguns.
Seria um proto-gnosticismo? Esses falsos mestres tinham um pressuposto: o corpo
não ressuscita. O ensino então era que a ressurreição acontecia no momento do
batismo e que quem passava por ele não mais envelhecia. A idéia é simplesmente
maravilhosa e é claro atraia atenção de muitos. Enquanto o evangelho pregado por
Paulo oferecia uma vida plena, sem sofrimentos mas, somente após a morte, esses
obreiros fraudulentos ofereciam tudo aqui e agora. Era um atalho interessante.
Qualquer semelhança com a teologia da prosperidade não é mera coincidência. É
impressionante que todas essas doutrinas têm um só propósito: desviar a atenção das
pessoas do evangelho que as pode salvar.
Os falsos mestres estavam literalmente negando a ressurreição do corpo, seguindo
John Stott “eles eram, talvez, primitivos gnósticos, para os quais o corpo representava
um embaraço difícil”.
Paulo está ensinando para Timóteo a importância da boa exegese. Quando nossos
pressupostos ou a nossa incompetência nos impede de enxergar a verdade, erramos
o alvo. Mais uma vez uma boa metáfora, agora fazendo alusão ao arco e flecha.
Quando esta erra o alvo e é lançada para longe, os olhos sempre a acompanham e
se afastam do alvo, assim também, qualquer mensagem que não passe
explicitamente pela cruz não pode fazer nem os olhos e menos ainda o coração, se
voltar para Jesus e fatalmente conduzirá à apostasia, e esta, à separação eterna de
Senhor.
Vs. 19 - Todavia o sólido fundamento de Deus permanece tendo este selo
(sfragda): ‘o Senhor conhece os que lhe pertencem’ e ‘afaste-se da injustiça
todo aquele que professa o nome do Senhor’.
O que Paulo está dizendo para Timóteo é: Apesar de tudo que está acontecendo, de
tantas heresias e distorções do verdadeiro evangelho, em última instância Deus está
no controle absoluto da história da salvação, em nenhum momento seus escolhidos
correram perigo. E Paulo se refere a isso como um selo e nós sabemos para que
servem os selos não é? John Stott diz que esse selo é duplo “ o primeiro é secreto e
invisível, e é ‘o Senhor conhece os que lhe pertencem’ e, portanto, os guardará a salvo
para sempre. O segundo é público e visível, a saber: ‘ afaste-se da injustiça todo
aquele que professa o nome do Senhor’”.
Essas citações provavelmente se referem a Nm 3:6 e 11:5.
Hedriksen diz que: “os falsos profetas podem desencaminhar a muitos, aliás, se fosse
possível, enganariam até os escolhidos” (cf. Mt 24:24)
Vs. 20-21 - Numa grande casa, não existem somente vasos de ouro e de prata,
mas também de madeira e de barro, uns para honra outros para desonra.
Portanto, se alguem vier a se purificar dessas coisas, será uma vaso para honra,
consagrado e útil para o seu dono e preparado para toda boa obra.
Até aqui Paulo apresentou as dificuldades que a igreja de Éfeso estava passando e
deu direção à Timóteo de como enfrentá-las. A partir de agora ele vai procurar ilustrar
tudo isso para tentar tornar mais claro e mais enfático o seu argumento.
A metáfora não é difícil de entender, parafraseando John Stott, numa casa normal há
todo tipo de utensílios, dos mais variados materiais, alguns são usados no dia a dia,
sem nenhuma honra, outros só são usados em ocasiões especiais, portanto, cheios
de honra e no meio do povo de Deus a história se repete, mas a comparação não
alude a simples membros mas sim aos mestres da igreja.
Ilustração através de duas metáforas comparando obreiros como vasos de honra e de
desonra. Assim como o ouro e a prata são purificados pelo fogo também o obreiro do
Senhor terá de ser primeiro testado para depois, tendo servido bem, ser aprovado.
William Hendriksen traça um paralelo entre esse passagem e a parábola do joio e do
trigo.
Assim como o fogo prova se o ouro é ouro e se a prata é prata, o Espírito prova
aqueles que são do Senhor.
vs. 22 - Foge dos desejos (eptumias) da juventude e segue porém a justiça
(dikaisosunen), a fé (pistis) o amor (ágapen), a paz (eirenen) na compania
daqueles que invocam o Senhor com o coração puro.
Paulo agora inicia a aplicação prática do seu ensino, ou seja, vai explicar a Timóteo a
importância de cada um desses conceitos e como se refletem na vida ministérial.
Seguindo Kelly: “Paulo agora retoma a nota pessoal que sua explosão contra os
separatistas (vs. 16) havia interrompido.
Precisamos pensar que nem todos os desejos da juventude são pecaminosos. O que
Paulo está dizendo para Timóteo fazer é fugir de tudo aquilo que possa prejudicar seu
chamado ministerial mas, seguir tudo o que for bom e estar sempre cercado por
aqueles que professam a mesma fé, lembrando que as práticas são conforme a
maneira de crer.
As palavras gregas aqui para foge (fouge) e segue (Dioko), formam um contraste
interessante. Enquanto "fouge”, literalmente “buscar segurança na fuga”, tem aqui a
ideia de proteção, imperativo que exorta Timóteo a se afastar de tudo que pudesse
levá-lo à asebeias ou ainda, fugir de tudo o que for contrário às virtudes que se seguem:
a justiça, a fé, o amor e a paz. O imperativo “Dioko”, significa correr após algo, a ideia
é de perseguir mesmo, como numa guerra ou numa caçada. Segundo John Stott, “o
sentido patente desse verbo no Novo Testamento é de perseguição”, Paulo o usa para
descrever a sua maneira de perseguir a igreja antes da sua conversão.
No texto grego elas estão lado a lado mas contrastando em atitudes.
Vs. 23 - Recusa as especulações (zetezis) tolas que são frutos da ignorância
pois sabes que só geram contendas.
A palavra grega para especulações é “zetezis” e pode significar investigação ou
discussão. Se é o primeiro caso, Paulo pode estar falando de investigações filosóficas,
metafísicas mas, se o sentido for de discussão então a melhor tradução seria
“controvérsias”. Quem diz isso é John Stott.
Paulo parece estar dizendo que tudo isso começa pela falta de conhecimento, a
ignorância. Ora, se estamos dispostos a aprender não devemos discutir, discussão
deve ser deixada para quem sabe muito para delas participar.
Podemos concluir que o ministro não deve envolver em nenhum tipo de controvérsia?
Parece contraditório uma vez que o próprio apóstolo se envolvia nelas sempre que a
verdade do Evangelho estava em jogo. Jesus em algumas ocasiões teve embates
duríssimos como por exemplo, com os cambistas no templo. O que podemos entender
disso tudo é que devemos fugir de discussões que não trazem edificação mas quando
o propósito da discussão teológica é saudável e tem como objetivo o crescimento, ou
quando se trata de questões centrais da fé cristã cremos que ela deva ser, naquele
caso até incentivada e nesse, inevitável.
Vs. 24 - Não é próprio do servo (doulos) do Senhor contender, mas sim ser gentil
para com todos e ser apto para ensinar (didaktikos), paciente (aneksikakon),
O homem de Deus não deve se envolver em disputa e nem em debates sem fim mas
sim, apresentar o evangelho da salvação com conhecimento e paciência. O debate
para descobrir “quem sabe mais” sobre um determinado assunto é infrutífero. O servo
do Senhor precisa estar preparado para intervir com a sabedoria que lhe é dada pelo
Senhor sempre que Deus lhe abrir uma oportunidade e saber que os resultados
podem demorar a aparecer.
Como servo do Senhor Jesus Cristo, segundo Hendriksen, como tal ele deve ser como
seu Senhor, que era manso, humilde, pacífico; que não gritou nem levantou sua voz,
nem a fez ouvir na praça, (com relação a debates), que quando foi oprimido e afligido
não abriu a boca.
Vs. 25 - instruindo com paciência aos que se lhe opõem, esperando que Deus
os traga de volta à sobriedade (metanoia) e ao conhecimento da verdade
(aletheia)
E para concluir sua linha de pensamento o apóstolo vai levar seu pupilo a visualizar
os frutos que sua conduta ilibada poderiam colher.
O ensino para ser eficiente precisa de ser feito com paciência, como quem ensina o
beabá a uma criança, compreendendo suas dificuldades, limitações e os seus
pressupostos. No caso do Evangelho podemos fazer tudo isso com o auxílio da oração
de intercessão confiando que em última instância, é Deus quem traz as pessoas de volta à
sobriedade. (metanóia, arrependimento)
A refutação deve ser feita com brandura, procurando através da exposição das
Escrituras, levar os oponentes de volta à lucidez.
O conhecimento da verdade, a aletheia, nada mais é do que o Evangelho de nosso
Senhor Jesus Cristo que é a telema (vontade geral) de Deus para todos. Não se trata apenas de uma
mudança sentimental, mas de uma dedicação total à verdade, que abranja todo o ser
humano. É o que diz Burki no Comentário Esperança.
Vs. 26 - para que se livrem da armadilha em que foram aprisionados (zogreo)
pelo diabo a fim de fazerem a sua vontade (telema).
A ideia aqui é que caíram na cilada, engano, arapuca do diabo, o que indica isso é o
próprio verbo zogreo, literalmente, capturar com vida. Segundo John Stott, este verbo
só é usado mais uma vez no Novo Testamento em Lc 5:10, quando Jesus diz a Pedro
que vai fazer dele um “pescador” de homens. Interessante porque o servo do Senhor,
nesse caso, através da pregação da palavra da verdade, pode então, livra-los do
terrível laço em que se encontram.
A frase “a fim de fazerem a sua vontade” tem sido um grande desafio para os
exegetas. A que vontade Paulo estaria se referindo? A do satanás, a de Deus ou a do
próprio aprisionado?
Nós entendemos que o satanás só consegue realmente aprisionar alguém quando
oferece a essa pessoa a oportunidade de fazer tudo o que sempre quis sem precisar
se reportar a ninguém. Então, nesse caso, satanás os aprisionou mas usando sua
própria vontade.
Depois de instruir Timóteo na conduta pastoral, de lançar luz sobre esses ensinos com
uma ótima ilustração, Paulo vai direto às consequências das escolhas que fazemos
como obreiros. O obreiro reprovado leva seus seguidores a uma maior impiedade,
enquanto que, aquele que é chamado e vocacionado por Deus conduzirá, através de
sua pregação sincera e de seu próprio exemplo, as ovelhas que estiverem sob seus
cuidados, sempre em direção ao alvo que é Jesus.
Como muda nossa maneira de pensar a respeito dos nossos opositores quando
entendemos que o que os mantém na ignorância é o mesmo que outrora nos prendeu,
as artimanhas de satanás. Somos então levados a orar para a conversão de todos
quantos perseguem o evangelho de Cristo, nesta proporção: para os que mais
perseguem, mais oração.
Entendemos como a mensagem central da perícope como deve ser a conduta do
servo do Senhor, todo o chamado ao ministério da proclamação do “kerigma”
(proclamação da palavra) e do “didárre” (ensino da palavra), o vs. 15 “Empenha-te
em apresenta-te a Deus aprovado como um operário
que não tem do que se envergonhar e que maneja bem a palavra da verdade”. Tudo
o que Paulo diz nessa passagem enfatiza esse imperativo.
Aplicação prática:
Precisamos voltar às origens do cristianismo apostólico, quando o amor por Cristo
falava mais alto que qualquer pensamento filosófico e a entrega à obra do Evangelho
era total. Deus sempre tem seu Moisés e seu Josué, seu Elias e seu Eliseu, seu Paulo
e seu Timóteo. A pergunta que faço é: onde estão eles em nosso tempo? O fato de
ser “duro de boca” não foi impedimento para que Deus usasse Moisés. Nem a
depressão de Elias foi empecilho para a obra, nem mesmo o fato de Jeremias ser uma
criança o impediu de ser um “profeta para as nações”. Isso sem falar de Davi, que era
o mais insignificante de sua casa. Muito menos o fato de Timóteo ser doente, tímido
e muito jovem não foi impedimento para que Deus o usasse como canal de bençãos
para a vida de tantos cristãos. Que esses obreiros aprovados por Deus possam servir
de inspiração para cada um de nós ainda hoje. Precisamos pensar que nossas limitações
não podem ser empecílios para o avanço, na direção correta, da mensagem do evangelho.
Eu não tenho dúvidas de que Deus está levantando em nosso tempo, no nosso meio,
uma geração de profetas com esse mesmo espírito, ou, para ser contemporâneo ,
com essa mesma pegada. Rogo orações em favor do meu mestre, professor Luiz Felipe, que
tem sido o meu Paulo. Seria interessante saber dele quem foi o Paulo da vida dele. e você?
Quem tem sido o Paulo na sua vida? Se não tem procure um imediatamente.
É com muita alegria que vemos tantos jovens na minha classe dedicando toda a vitalidade
de suas juventudes à causa do Evangelho.
Em tempos de grande apostasia, em que vemos a "asebeias” avançando, precisamos
mostrar o caminho certo, denunciando o pecado, sendo coluna e baluarte da verdade,
cortando reto mas, sem perder a ternura.

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¹ - Tácito
² - Comentário Esperânça
³ - Tradução Própria
4- Nm 16:5
5- Nm 16:26